segunda-feira, 17 de maio de 2010

Apresente algo novo!

Olá, amigos,

O post de hoje é para rebater mais um 'palavratório' anti-qualquer-coisa-que-façamos em termos de quadrinhos no Brasil. Recebi pelo Twitter este link (http://diariopratico.mypodcast.com/2010/03/Superheris_do_Brasil-292014.html) e fui lá conferir. Eu sei que não vale a pena, eu sei que dá mais dor-de-cabeça do que alívio, mas não resisti ao desafio ao desabafo.

Não percam seu tempo com a introdução, e vão logo para os 22'34" onde a coisa começa. Fiz algumas anotações e repasso logo a seguir: argumentos (teses) do autor, Pedro Bahia, sobre como ele vê as 'histórias em quadrinhos brasileiras'.

"Total falta de identidade dessas histórias em quadrinhos brasileiras.

Balançar as bandeiras pelo quadrinho nacional - o que está embutido é pa-ter-na-lismo.

O quadrinho é profundamente influenciado, e influenciado é uma palavra bondosa, pelo quadrinho americano.

É difícil não criticar: apresentem algo novo! Como é o caso de qualquer quadrinho do mundo.

É impossível fazer um quadrinho com cara de americano no Brasil e chamar isso de brasileiro. Isso tem um nome: cara-de-pau.

A estética brasileira não é a americana.

A cara daquele negócio (
sobre a HQ digital 'Libertas') é de quadrinho americano.

Não se lida com as consequências. Que nível de alienação é essa?

O cara viu um herói-americano e emulou. É sempre assim. É chupação braba mesmo e a coisa não para por aí.

Não há o mínimo esforço de tentar encaixar no contexto brasileiro, ou uma visão brasileira.

Pessoas que caem nesse arapuca de fazer aquilo que tecnicamente não dá pra dar outro nome: pastiche. Colagem.

Histórias que de um modo geral falam: eu quero ser americano, que merda que eu nasci neste país.

Pelo amor de deus, gente, esse não é o caminho!

Essa idéia de quadrinho nacional é uma abstração. Isso não exite. O que existe no Brasil são pessoas no Brasil fazendo quadrinhos. (!)

O que existe no Brasil são quadrinhistas e eles precisam ser formados. Estudem, façam faculdade! Vai estudar arte, meu, vai fazer design...
"


Amigos, postei um comentário no blog do autor, do qual espero retorno, e posto agora, aqui no blog, a minha antítese (anti-tese).

Criticar é fácil. Falar é fácil, até para caras que como eu não falam muito. Por isso, meu argumento gira em torno de três pontos: identidade, identidade e exemplo.

Para demonstrar meu primeiro ponto, porque todo o cast do Pedro gira em torno de identidade, e em particular e especificamente a identidade 'brasileira', proponho uma atividade para vocês antes de continuarmos: encontrem um antropólogo que, com propriedade, defina 'O brasileiro'. Só isso. Depois, aí então, discutiremos o que é 'O quadrinho brasileiro' - que, pela lógica, deveria ser 'o quadrinho do brasileiro'.

Recentemente tomei conhecimento deste outro fato, que os recomendo a ler e refletir: (http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/veja-responde-ao-antropologo-duvidas-persistem)

Citando do texto contido no link acima, vemos que "Não existem 'ambientes culturais originais'; as culturas estão constantemente em transformação interna e em comunicação externa, e os dois processos são, via de regra, intimamente correlacionados". Logo podemos deduzir que nunca haverá uma definição para o 'quadrinho nacional', para o 'quadrinho brasileiro', para a 'estética brasileira', para um 'contexto brasileiro', para uma 'visão brasileira' se não há, antes e a priori, sequer uma definição para o que é e o que não é 'brasileiro'. Isso por si só cessaria toda a discussão que se faz em cima do tema há anos (e que via de regra é desgastante para todos). O problema está em que aqueles que nos acusam de sermos alienados e imaturos (como o Pedro), ou incultos, ou não letrados, etc, na verdade são as próprias caricaturas do que falam. O tema, numa banca acadêmica, se encerra em dois turnos de arguição: o problema é a identidade do quadrinho ou é o quadrinho em si? Se for a identidade do quadrinho, e se ele é brasileiro ou não, defina a identidade do brasileiro e veja se o quadrinho pode ou não pode ser oriundo desta identidade, identificado com ela. Se o problema é o quadrinho em si e o que há de errado com ele, especificamente, as respostas a estas perguntas, obviamente, devem ser técnicas (quanto à técnica), a começar por definir o que é quadrinho - e logo temos a problemática da identidade. Então: o que mais? Quem critica, não produz. E quem produz, critica?

Indo mais além, e para demonstrar meu segundo ponto, cito uma frase da Legião Urbana que acho de uma inspiração ímpar: "E tudo aquilo contra o que sempre lutam, é exatamente aquilo o que eles são". Isto se aplica à tese freudiana da psicologia reversa, quando fala que tudo aquilo que nós conjecturamos de odioso no outro é, na verdade, manifestação do nosso subconsciente daquilo que achamos odioso em nós mesmos (e isso vale pra muitas outras coisas). Meia palavra basta? Basta!

E, para encerrar, o terceiro ponto tem a ver com o segundo: fala do exemplo. Pelo que entendi do Podcast do Pedro, o objetivo dele era mesmo criticar. Se continuarem a escutar, verão que é difícil, distribuidos esparsamente pelos 59 minutos de áudio, encontrar o que ele próprio fez, de fato, de exemplos, de concreto, para nos mostrar 'o caminho', para nos 'apresentar o algo novo'. Difícil encontrar os desenhos dele, e os que encontrei não sei dizer se são ou não - já que ele comenta, no início, sobre seus conhecimentos de anatomia, sobre a história da arte, de ser artista, ou quando fala da arte do Libertas, que "o desenho não é bom, tá cheio de falhas". Eu não aprendi muito nos meus poucos anos de vida, mas aprendi que eu desenho melhor do que falo. E que a melhor crítica que posso fazer está no que eu realmente faço.

Mas não se enganem, amigos: discurso nacionalista é sempre a mesma baboseira.

Resta algo que gostaria de dizer ao Pedro e aos críticos desta linha: Pelo amor de Deus, gente, esse não é o caminho! Apresentem algo novo!

2 comentários:

  1. Rosendo, meu caro!
    Já faz um tempo que desisti de discutir algo com estes peseudo-críticos-intelectualóides!
    São TODOS iguais! Cobram de nós, artistas, que façamos algo novo! Uns até dão receitas de sucesso (que sequer eles seguem)! Tudo papo furado!
    Quem disse que não podemos ou não devemos sofrer influência externa para produzir o nosso produto? O brasileiro, em si, não é fruto de muitas misturas e influências externas?
    Esse Pedro (ou qualquer outro) não é uma miscelânea de culturas? Ele é brasileiro puro? Se é, veio de alguma tribo intocada do meio da floresta Amazônica? Creio que não, ou não taria escrevendo baboseiras pela internet...
    Estas críticas são sempre "mais do mesmo"! Eles também não acrescentam nada de novo!
    E o que eles mostram é só uma coisa: RECALQUE!
    Tenho pena deles!

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  2. É meu amigo, infelizmente a internet é um lugar onde todos falam a vontade.

    Eu acredito que se vc produz algo de qualidade, não importa se inspirado pelos americanos ou não, aquilo vai gerar bons frutos.

    Concordo com um certo exagero de alguns quadrinistas nacionais com relação aos "genéricos" de heróis americanos, quando vc coloca por exemplo um personagem no estilo do Batman em um cenário brasileiro, as atitudes vão mudar, pois nós não pensamos como eles. Mas isso é papo pra outro post. risos

    No geral, como disse nosso amigo Lobo acima, tem muita gente que fala mais do que faz.

    O jeito é continuar produzindo e tentando achar o melhor caminho, deixando essas criticas vazias pra trás.

    Seu trabalho é muito bacana.

    Um abraço

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